BERLINN TALK DAYS #3 EP. 2
FYRE Festival: O que aconteceu?
Tudo começou no final de 2016, os organizadores fizeram uma ação onde o Instagram foi invadido por quadrados laranjas com uma hashtag #fyrefestival, todo mundo queria saber sobre o que se tratava afinal nomes como Ja Rule, Bella Hadid, Alessandra Ambrosio e Kendall Jenner haviam postado essas fotos.
Logo em seguida descobriram que a ação era promocional de um festival que havia sido lançado para promover a criação de um aplicativo de contratação de artistas para shows. O idealizador Billy McFarland, junto com o rapper e sócio JaRule, sim o JaRule está envolvido nisso, investiram no sentimento de FOMO, e criaram desejo em milhares de americanos.
Apenas 48 horas após a abertura da bilheteria, os ingressos do evento já tinham sido completamente vendidos, inédito para uma primeira edição. Os ingressos custavam a bagatela que variavam entre 400 e 12.000 dólares.
Sucesso né? Mas como eles fizeram isso?
O documentário da Netflix começa com o vídeo promocional da Fyre, mostrando águas cristalinas do caribe. Acredito que essa é a resposta.
O plano de comunicação era perfeito e não apresentava falhas até poucos dias antes do início do festival. Um puta case de construção de marca, trabalho impecável de audiovisual com fotografia, edição, direção e tudo que tem direito, alinhado com uma ótima estratégia de influenciadores realizada pela Jerry Media, empresa de marketing social contratada pela Fyre.
Mas você deve estar se perguntando o que deu errado? Todo o resto, eu diria. Eles não entregaram nem 1% do que era proposto no vídeo promocional.
O vídeo que foi gravado em Bahamas vendia um festival de música ultra-exclusivo, como supermodelos em experiências luxuosa em iates e jet ski, menus exóticos preparados por chefs de cozinha e um cenário de perder o fôlego na antiga ilha do narcotraficante colombiano Pablo Escobar.
Aposto que você jovem millenium, ficou com vontade de ir após ver essas imagens… Pois é Billy entendia como sua geração funcionava e o que valorizavam, por isso conseguiu construir um sucesso da noite para o dia com redes sociais bem cuidadas, comunicação milimétrica planejada e embaixadores super influentes em um cenário perfeito para fotos no Instagram, esta foi a receita para o sucesso da campanha de Fyre.
Alguns dizem que o que causou a crise do Fyre foi o marketing, mas para mim não podemos colocar a culpa apenas nas altas expectativas e no ótimo trabalho de comunicação. Afinal o que foi entregue não podia ser chamado de festival, né?
Já me peguei me perguntando afinal o que poderia ser tão ruim, afinal é preciso muito para tornar esse paraíso em algo desagradável. Pois é…. foram feitas promessas que estiveram longe de ser cumpridas, no lugar de uma experiência única super luxuosa e exclusiva as pessoas encontraram:
Um lugar totalmente diferente do prometido. A ilha se quer era a mesma dos vídeos, não havia local definido até 45 dias antes do evento
As bandas confirmadas não tocaram por falta de cache
Esse era o queijo quente que serviram aos clientes que estavam esperando alta gastronomia….
Não havia estrutura prometida, sequer havia lugar para todos dormirem. Em vez de bagalos, eles encontram tendas com colchões colocados no chão e encharcados pela chuva
Não havia staff para ajudar e organizar. As malas dos hospedes foram jogadas em um estacionamento sem iluminação.
E lembre-se era uma ilha, e não tinha avião para sair dela
Nessa altura do campeonato tínhamos uma mistura de American Pie com a Ilha de Lost. Enfim, é o que podemos chamar de uma experiência traumática. Tudo isso era relatado e denunciado em tempo real no twitter. As mesmas redes sociais que criaram o Fyre acabaram com a grande mentira que era o festival.
Calma que piora…
E se você acha que está ruim para os playboys e influencer americanos é por que ainda não ouviu os depoimentos do pessoal local da ilha que trabalhou por semanas para a montagem do festival ou os empreendedores locais que prestaram serviços como alimentação e transporte e não receberam por isso
E tudo isso é culpa do Billy, que é o idealizador do festival. Afinal ele sabia que estava tudo caminhando para uma catástrofe e seguiu enganando o público até o final e funcionarios. Porém não demorou muito para que os jovens frustrados do woodstock dos millennials entrassem com ações judiciais contra ele.
Hoje, ele está cumprindo uma sentença de seis anos por fraude. Enquanto Ja Rule, que se auto declarava o co-idealizador do evento, não foi preso ou acusado por fraude. Seus advogados afirmaram que Billy usava o nome do rapper para promover a cerimônia e que ele não tinha nada a ver com isso.
Mas tambem nao achei nenhum lugar que dizia que ele ajudou com seus milhões a população da ilha que foi lesada pelo festival, porém para os que ficaram comovidos com a história da maryann dona do restaurante que aparece no documentário tenho uma boa notícia rolou uma vaquinha para reembolsar ela.
Já caminhando para o final a parte mais chocante de tudo isso. Pouco tempo depois do evento horrível, foi feita uma pesquisa com os jovens que participaram da experiência perguntando se eles iriam de novo para o festival: 80% deles disseram que sim.
Poderia ter sido apenas o pior festival de música da história, largando centenas de millennials ricos entre Miami e as Bahamas com nada pra fazer fora xingar muito no Twitter. Ou um sonho caribenho febril de Ja Rule acabou rendendo um processo de $100 milhões de dólares. Mas conseguimos tirar bons aprendizados daí.
Vamos a lista das cinco coisas que aprendemos sobre o Fyre Festival:
Construção de marca é tudo, se você precisar investir em algo hoje invista nisso, dá retorno e vale a pena… afinal com um sold out e 80% de aprovação do público rs
Produzir eventos não é brincadeira, ninguém monta uma estrutura em uma ilha no meio do atlântico em menos de 2 meses
Planeje-se. Não venda ingressos antes de possuir informações básicas
Seja transparente com seu consumidor e com todos os stakeholders internos ou externos. Por maior que seja o problema ninguém quer ser enganado
Ja Rule é 2005, eu na escola com meu ipod.